Dos Crimes e Dos Castigos: Previsões para 2018

2018 é daqueles anos que acontecem a cada quatriênio, quando dois acontecimentos incendeiam os ânimos dos brasileiros: a Copa do Mundo e a escolha do novo Presidente da República. Quanto ao primeiro, o detalhe mais digno de registro é que acontecerá na pátria de Dostoiévski, aquele autor de Crime e Castigo, e do compositor Tchaikovsky, gênios da humanidade que instigaram a formação cultural do golpista Temer, conforme o próprio declarou em visita a Putin.

Tenho impressão que, este ano, o interesse pelo campeonato está meio enfraquecido, não sei se pela distância do país sede, se pela estranheza do idioma russo, ou se porque a lembrança do fiasco do 7×1 ainda provoca algum constrangimento. Sem falar na hipótese de que o sufrágio de outubro já está canalizando todas as energias dos brasileiros para disputa pelo cargo de presidente do Brasil. Tanto é assim que, até agora, ninguém emitiu nenhum palpite sobre o novo campeão mundial. Lembro que no último torneio aqui no Brasil, por essa época, a grande dúvida era: vai ter copa? E os otimistas não só respondiam positivamente como ainda vaticinavam que a Seleção brasileira finalmente conquistaria o tão sonhado hexa. Hoje não tem nada disso. Mas em compensação, na política, quantas previsões…

É bem verdade que não é muito difícil antecipar os resultados. Desde o golpe de 2016 que os fatos vêm se sucedendo numa ordem muito lógica para que o governo brasileiro seja entregue para a Direita, aquela que há muito tempo não ganha uma eleição, e perdeu a paciência para competições eleitorais. O primeiro passo era derrubar a Dilma, isso foi feito, até com certa facilidade. O próximo seria prender o Lula, para impedi-lo de concorrer. Esse ponto apresentava um grau mais elevado de dificuldade, mas nada que um juiz adestrado em escolas superiores do primeiro mundo não conseguisse superar.  Tanto que a condenação já está pronta, só falta a execução. Mas tudo tem seu tempo certo. Até na Bíblia Sagrada diz que há o tempo de plantar e o de colher. E a classe que dominou o país por 500 anos finalmente vai colher os frutos do plantio que vem fazendo desde 2014: a retomada do poder no Brasil.

Também não é muito difícil prever o titular que vai vestir a faixa presidencial em 2019. Eu aposto em Geraldo Alckmin, por um motivo muito simples: o conservadorismo político não tem outro representante para sentar na cadeira presidencial, visto que a carreira do Aécio virou pó, o Serra caducou desde que levou uma taça de champanhe na cara, e o Dória…. Bem, o Dória precisa aceitar que os mais velhos têm prioridade de atendimento e aprender a esperar na fila até ser chamado. Em resumo, o atual governador de São Paulo é o menos enlameado até agora nesse poço de lama que se tornou a política brasileira. Uma manchinha aqui outra ali, que a mídia, sempre solícita, saberá encobrir durante o pleito.

De todos os presidenciáveis atuais, o mais improvável é o Bolsonaro. Não consigo entender o medo que esse aprendiz de Hitler desperta em certas pessoas; muito menos a esperança de uma parcela da população em relação a ele. Ingenuidade? Falta de visão política? Não sei. Sei é que a mim ele não causa o menor receio. E não por eu nutrir qualquer simpatia, afinal, eu tenho alguns neurônios que ainda funcionam. É por ter a convicção de que não há a menor chance de termos de novo um troglodita à frente da nação. É bem verdade que há uma multidão de anencéfalos loucos para digitar o número dele na urna. Mas é certo também que ninguém chega à presidência se não tiver o apoio de setores importantes da sociedade civil, como os empresários, a mídia, e esse indivíduo não tem unanimidade nem na caserna de onde saiu. Ele só anda espanejando imbecilidades pelo país porque a campanha ainda não começou pra valer. Assim que for dada a largada para a corrida ele não dura uma semana como preferido do eleitorado. Se por acaso ele estiver apresentando algum risco para o candidato dos poderosos de sempre, no caso o Alckmin, basta uma única edição do Jornal Nacional para ele recolher os coturnos e retornar à insignificância que sempre foi sua principal marca. Há algo tão evidente que chega a ser desnecessário falar, mas tem gente que não vê: não faz o menor sentido investir tanto em um golpe para derrubar a presidente eleita, prender o principal concorrente, e depois entregar tudo nas mãos de um debiloide que só sabe esbravejar ofensas e ameaças para todos os lados.

Já com o Lula, que apresenta um perigo real para a ganância da elite econômica, o noticiário global não surtiu o efeito esperado de tirá-lo fora do páreo e os suseranos deste feudo tupiniquim precisaram recorrer a um aparato jurídico inaugurado na época da pós-verdade, onde o que importa é a versão que mais satisfaz as necessidades de quem determina as regras do jogo. Enfim, vivemos no país do castigo sem crime, onde os verdadeiros crimes permanecem sem castigo.

Com essas expectativas para a política, a solução é abrir um livro de Dostoiévski, ouvir um CD de Tchaikovsky, e já que o Neymar é 100% Jesus, rezar para que a equipe verde-amarela pelo menos nos poupe de mais um vexame mundial.

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