Conservadorismo e Ignorância

Ignorância e conservadorismo

Dia desses, li uma matéria sobre a interdependência entre capacidade do intelecto e posições políticas. Por mais que a credibilidade desse tipo de estudo não seja lá muito grande, eu fiquei curioso com o resultado, porque tenho observado o mesmo fenômeno. A pesquisa descobriu que as pessoas com certo grau de dificuldades intelectuais são todas conservadoras e reacionárias.

Desnecessário uma formação de cientista pra chegar a essa conclusão, e também não me detive na objetividade dos critérios do referido trabalho. Bastou a sensação de estar diante de um fato que eu também já tinha percebido.  E como nas horas de ócio eu gosto de me disfarçar de pesquisador diletante e entender os problemas que condicionam a convivência da raça homo sapiens, me pus a divagar por minha própria conta sobre o assunto.

Um dos fatores que determinam a reciprocidade entre estultice e conservadorismo parece bastante óbvio. Pessoas cujo pensamento não atinge dimensões mais profundas do que a superfície visível costumam simplificar a existência a um nível facilmente aceitável. Isso é um efeito dessa necessidade mórbida de controlar tudo o que acontece em volta, para se sentirem seguras nesse imenso universo em constante movimento. A estratégia pra isso é esquadrinhar a vida em compartimentos estanques, onde tudo tem seu lugar definido, tudo funciona de acordo com alguma lei predefinida e imutável.

O problema é que a constante pulsação da realidade não se sujeita a normas estranhas, e acaba sempre atropelando a paz artificial adquirida apenas na dimensão do imaginário. Uma mente aberta, disposta a acompanhar o fluxo da existência, se joga no movimento e tenta aprender as potencialidades do novo ritmo. Um espírito estreito, que prefere a segurança do já conhecido às surpresas da novidade, se apega ao passado e se põe a praguejar contra o presente. Para essa alma pacata, que não enxerga nada além do seu restrito ângulo de visão, onde tudo repousa numa organização confortável, o redemoinho que põe em revoada suas frágeis certezas, será sempre consequência de comportamentos alheios, que ela julga sempre como degradação moral. Jamais conseguirá entender que os novos arranjos, inclusive os novos comportamentos, são apenas a atualização de algo que sempre existiu em estado potencial. O resultado disso é o desespero e a ansiedade pela volta ao estado anterior, que aparecerá sempre como um momento superior da trajetória existencial.

Uma mentalidade que tem a organização como um fator essencial de qualquer domínio, acaba sempre criando uma hierarquia na disposição dos elementos que constituem um ambiente. E como toda estrutura hierarquizada precisa de uma força externa para pôr o mecanismo em funcionamento, surge a necessidade de uma entidade superiora que desempenhe esse papel. A solução mais acessível encontrada pelos primitivos humanos, ainda lá no interior das cavernas, foi a invenção de seres supremos, habitantes das esferas celestiais, dotados de poder descomunal e absoluto sobre homens aqui da terra. Por isso que todo o vivente privado de vigor no entendimento, além de reacionário é extremamente religioso. A religiosidade, como resultado de uma limitada visão de mundo, é até aceitável, visto que ela é a característica básica de um estágio psicologicamente infantilizado. Mas a obstinação dos ignorantes em não tolerar a complexidade da vida real é um fenômeno que merece muitas reflexões, pois afinal de contas, tem coisas que até as crianças entendem.

Arte ilustração: Latuff

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