O município de Canguçu, onde eu nasci, não oferecia muitas opções para um guri de índole contemplativa, que gostava de se isolar e sonhar sozinho com mundos imaginários.

Anos mais tarde, já adolescente, em Pelotas, um curso técnico era a escolha natural de quem precisava ir atrás do próprio sustento. Numa casa quase sem livros, a televisão era a única porta de entrada para mundos fictícios.

Um dia, folheando o catálogo da biblioteca da Escola Técnica, em busca do conteúdo de uma prova, encontrei, na seção de obras literárias, o título de um filme visto poucos dias antes na TV, e que tinha me fascinado. Os Irmãos Karamazov. Decidi conhecer o livro, um pouco por curiosidade, outro pouco para me afastar do tédio das aulas técnicas.  Como poderia eu imaginar que aquele seria um momento decisivo na minha vida? O fato é que, naquele momento, a carreira de técnico estava com o fim decretado, antes mesmo de começar. 

Vir para Porto Alegre foi um resultado natural desse trajeto. E o curso de Letras na UFRGS, também. A literatura se tornou de tal maneira uma necessidade vital, que nunca mais consegui parar de ler. Não demorou muito, passei a sonhar em escrever os meus próprios textos. Vacilação e insegurança eram obstáculos naturais que apareciam nas primeiras tentativas. Muitas leituras depois,

uma passagem por oficinas literárias, e muitos rascunhos, e eis que encontro a coragem para o primeiro passo.

Agora, este espaço é criado para mostrar um pouco do que tenho a dizer, para quem quiser acompanhar o resto da história.