PRODUTO EXPORTAÇÃO

O Brasil é o país das grandes possibilidades, tudo aqui é superlativo. A começar pelas riquezas e belezas naturais com que o Criador privilegiou estas terras, tudo é digno de louvor. Por isso ninguém duvida da sinceridade dos sentimentos ufanistas que enchem de orgulho o coração dos brasileiros. Patriotismo é a palavra do momento. Ah, se a gente pudesse exportar essas margens plácidas, esse formoso céu risonho e límpido, tudo iluminado ao sol do novo mundo, esses lindos campos com muito mais flores de um clima tropical, essa felicidade suada nas praias, esse entusiasmo auriverde, tão bem pintado nas cores da nossa bandeira. Pudéssemos nós, dizia eu, mandar tudo isso para os infelizes e pobres de espírito como a Noruega, Escócia, Finlândia e certamente assumiríamos a liderança mundial na anunciação das bem-aventuranças.

Mas felizmente temos outros tesouros de extraordinário valor material que podemos vender para o exterior e deixar a marca verde-amarela na alma dos povos. Veja-se o caso do nióbio, com o qual se faz bijuterias cuja perfeição e a graça nunca foram sequer imitadas em qualquer parte de qualquer continente. Ornamentos encantadores para adornar as mulheres de todo o globo terrestre. Não fosse o nosso atual presidente fazer uma campanha internacional de divulgação de colares, brincos e correntinhas, que chegam ao preço astronômico de quatro mil reais no mercado externo, boa parte dos terráqueos estaria privado de conhecer a mais abundante fonte de adereços para o bom proveito do coquetismo feminino.

Sem dúvida nenhuma estamos iniciando um novo ciclo de desenvolvimento econômico, pois é sabido que o Brasil possui a maior mina de nióbio do planeta, quiçá, das galáxias.

Essa euforia me levou a sugerir outras preciosidades tipicamente nacionais para alavancar a economia e espalhar as bênçãos da fortuna pelos quatro cantos do universo. Penso, por exemplo, na diversidade dos pássaros, e já fico de olho nessas espécies que só existem no Brasil. Seria uma boa ideia exportar esses passarinhos que gorjeiam encantadoras melodias nas nossas florestas. Faríamos a alegria dos estrangeiros que não conhecem grande parte da nossa fauna, e ainda, por tabela, incrementaríamos a armação e exportação de gaiolas, que por sua vez redundaria no aumento da venda de cochinhos para alpiste e água, feitos de casca de pau brasil, naturalmente. Sem falar na indústria do alçapão. Se alguma dessas pessoas que sempre torcem contra quiser argumentar que os bichinhos vão sofrer, a gente esfrega na cara delas o óbvio, a floresta está sendo derrubada, em breve vai desaparecer tudo, então melhor que vão para a outro país, na casa de algum colecionador rico. Urge, para o bem da civilização, destravar esse emaranhado de empecilhos burocráticos que dificultam a revoada internacional desses bandos graciosos. Chega desse egoísmo de querer só para nós uma coisa que é da natureza.

Essa nova mentalidade econômica do nosso presidente já tinha aparecido por ocasião da exportação dos abacates para a Argentina. Eu não sei se houve uma oferta correspondente de cumbucas, aquela vasilha que a gente usa para espremer a polpa da fruta. É claro que a gente ofereceria um utensilio feito de cuia, outro fruto dessa terra maravilhosa. Então fica a dica, exportação de cumbucas de cuia para a Argentina.

Não entendo essa preocupação de algumas pessoas com a Petrobras e com outras empresas geradoras de energia, que estão sendo vendidas para o estrangeiro. Uma prova da insignificância desse setor é que os governos anteriores, todos influenciados pela ideologia marxista, priorizaram essas empresas e deixaram de lado aqueles que geram produtos tipicamente brasileiros. Como todo mundo sabe, o comunismo é um alinhamento com Moscou, Cuba e Venezuela, que aliás é rica em petróleo, o que explica essa preocupação. Tudo isso, petróleo, energia, é encontrado em qualquer lugar, não tem a marca de um país tão grandioso e extraordinário como o Brasil. Valorizar algo tão corriqueiro não significa nada em termos de amor pelo país. A verdadeira devoção à pátria é o amor que eleva às alturas tudo o que a gente tem em particular, como nióbio, o abacate, e alguns pássaros. No caso dos frutos do abacateiro, é claro que deviam ser vendidos para toda a orbe, não só para os argentinos. Pense no deslumbramento de uma mulher de primeiro mundo com uma arara da Amazônia, um papagaio, ou até mesmo uma periquita na gaiola, comendo uma batida de abacate, e nas orelhas, balançando, dois brincos de nióbio procedentes de Araxá. Toda a alma dessa mulher estará voltada para o Brasil, para o povo brasileiro e seu representante maior, o presidente, que impulsionou esse comércio e possibilitou a ela esse momento mágico.

Quando os profetas da mídia anunciavam os novos tempos na política tupiniquim a gente tinha certeza da iminência de uma revolução na maneira de conduzir os negócios do Estado, mas não contava com essa guinada tão radical na visão econômica. Acho que o presidente, quando candidato, por pura modéstia, escondeu o jogo e, de início, não falou nada sobre isso.

E esse nosso governo não se cansa de incentivar novas ousadias com vistas ao progresso econômico e social. Tanto é assim que um dos grandes incentivos que deu, antes mesmo de ser eleito, foi para o cultivo de laranja que, conquanto não seja uma relíquia nativa, tem sido uma fruta muito requisitada. Cada dia descobre-se novos e abundantes laranjais nesta rica pindorama, mas não há intenção de exportar, pois a demanda interna tem sido muito grande, e não se pode correr o risco de faltar para o consumo próprio.

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