Iate Amarelo – Adaptação de Navio de Castro Alves, por Robson Alves Soares

Normalmente eu não abro espaço para outras pessoas publicarem neste blog. Mas o meu amigo Robson Alves ( não sei se é parente do Castro, desconfio que seja descendente ) fez uma boa e bem humorada homenagem aos nossos manifestantes.
Sinto um dever quase cívico de compartilhar esta obra.
Boa leitura

[Foto: O Globo]

Iate verde-amarelo

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
pelas vagas sem fim boiando à toa!

Que importa dos nautas o berço?
Donde é filho, qual seu lar?
Mas que vejo eu aí…que quadro de amarguras!
É canto funeral! Que tétricas figuras, batendo panelas!
Que cena infame e vil…que horror! E vestem camisetas amarelas!

Sem tinir de ferros…sem estalos de açoite…
Legiões de homens brancos como o dia,
horrendos a vociferar…

E ri-se a orquestra irônica, estridente…
ali não há magras crianças, nem bocas pretas,
apenas outras moças, quase nuas, a se fotografar.

Presa nos elos de uma só cadeia,
que com brilho falso os tonteia,
a multidão sem fome, não cambaleia.
Nem chora, apenas dança ali!

Um de ódio delira, outro enlouquece,
outros, sem qualquer martírio, se embrutecem.
No entanto o capitão manda a manobra:
“Vibrai com mãos rijas as panelas, quatrocentões conscientes!”

E ri-se a orquestra irônica, estridente…
Gritos, maldições, selfies.
Ó mar, por que não apagas
com a esponja de tuas vagas,
de teu manto este borrão?

Quem são estes desgraçados, quem são?
Que excitam em si mesmos a fúria do algoz?
Se a estrela cala, dize-me tu, Musa libérrima, audaz!

São os filhos do deserto,
uma tribo de homens nus,
míseros escravos, sem luz,
sem pés doloridos, sem razão…

O que são? Um povo que a bandeira empresta
pra cobrir tanta infâmia e covardia.
Auriverde pendão da minha terra,
que a brisa do Brasil beija e balança,
antes te houvessem roto na batalha,
que servires a um povo que esbanja.

Mas é infâmia demais!
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Mostrem suas costas ancestrais,
seus diplomas universitários.
Fechem a porta destes mares,
arranquem, por falsamente agitado, este pendão dos ares!

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