Descontos Gauchescos

Cosa de loco essa comemoração da nossa gente. Que orgulho de nascer nesta terra e ver a bagualada festejando as tradição. Saí lá do meu rancho ao romper da orora, deixei a minha prenda pra tomar conta dos aninal e das plantação, me bandiei pra cidade pra me arranchar no acampamento e festejar o vinte de setembro. E lá na entrada da cidade já me deu um aperto no coração só de ver a estátua do laçador, com aquela macheza toda, olhando pro horizonte, como quem protege o caminho do índio chucro que chega acanhado, que nem eu, meio sestroso com esse mundaréu de gente e de carro.

Essa correria e essa fumaceira é que escangalha um pouco a vida urbana porque Porto Alegre tem tanta coisa bonita pra se olhar que dá gosto ser porto-alegrense. Nem falo das prenda, porque sou home casado e não gosto dessas liberdade de hoje em dia. Mas só o pôr do sol na beira do Guaíba já enche de água os olho do vivente, e dá um nó na garganta.

Mas o que eu queria conhecer mesmo era o acampamento farroupilha. Desde há muito que pensava em me arranchar por aqui por uns dia, pra participar das comemoração da semana farroupilha, mas só agora é que deu no jeito. Montei no meu matungo de manhã cedito, e no cair da noite boleei a perna no parque Harmonia, mais faceiro que guri novo na zona. Achei que meu pangaré não aguentava o tranco do trote, já meio estropiado da lida no campo, mas ele é da raça crioula e não nega o sangue gaúcho, pois nasceu lá no meu cercado.

O Rio Grande merece uma comemoração assim tão macanuda. Olha quanta gente boa nasceu aqui e leva o nome do pago por este Brasil afora. Cito só dois nome pra não me espichar muito, porque a lista é comprida: o analista de Bagé e o guri de Uruguaiana. Esses engrandecem o nome do estado e faz a gente ter orgulho de ter nascido aqui. Deixo de lado o Teixeirinha porque acho que esse nem home era. Por favor, não me interprete mal, que não sou de lançar maldade no lombro dos outro, quero dizer é que ele não era humano, aquele tinha parte com Deus porque pra cantar bem como ele cantava, só com a benção divina. Quando ele dizia, “Deus é gaúcho, de espora e mango”, acho que falava dele mesmo.

E já que falei em maldade, isso é que tem muito por aqui também, pois como se sabe, onde Deus planta uma semente, o capeta joga um inço. Me refiro a esses fitriquero que ficam agourando o acampamento que nem urubu em cima da carniça. É só despeito dessa gente que não sabe amar o torrão onde nasceu. Nesses dia que tô aqui tomei muito chimarrão, me enterti na prosa, bebi umas canha, joguei o osso, tudo na santa paz e em clima de amizade.

É claro que onde a babagualada se emagota e bebe umas canjibrina, um ou outro toma um talagaço e passa dos limite. Não vou dizer que não dá entrevero, mas é tudo rusga de cusco, daí a pouco já tão se cheirando de novo e churrasqueando junto. É verdade que pode acontecer um acidente ou outro, mas isso onde é que não acontece?  Como um causo que se conta por aí, que aconteceu um tempo atrás. Um bagual saiu pra rua de madrugada pra tirar a água do joelho, viu um vagalume ao longe, sacou do revólver pra treinar a pontaria. Acertou em cheio. Só que não era um vagalume, era um taura que perdeu o sono e veio pitar no meio das árvore.

Outra vez, um acampado que era traquejado em história do Rio Grande tava ensinando por parceiro como se deu a revolução da degola, pegou uma daga, encostou no pescoço do vivente assim de leve. Era só faz de conta pra ilustrar a explicação. Mas aí um sujeito novo no acampamento, estrangeiro que não conhecia as tradição do Rio Grande, ia passando no meio dos piquete, viu aquilo e correu pra apartar, pensando que fosse uma peleia, e por culpa do destino ele mesmo ficou espetado na ponta da faca.

Coisa assim pode acontecer em qualquer lugar, por que que só onde tem gaúcho é que causa tanto rebuliço?  Pra gaúcho a gente tem que dar um desconto, este povo é exaltado, enfurece por um nada, pode até derrubar a cerca que separa o bem e o mal. Mas tudo isso faz parte da índole desse povo que nasceu com a coroa de monarca presa na cabeça.

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